O genocídio não parou na Palestina
A trégua não significa que Israel recuou em seu projeto de exterminar os palestinos.
Centenas de milhares de mulheres, homens e crianças, muitos deles descalços, marcharam para o norte de Gaza, aproveitando a trégua, para encontrar as ruínas que um dia foram suas casas, suas plantações, suas cidades. Como disse o embaixador palestino nas Nações Unidas, Riyad Mansour, “Israel destruiu tudo, exceto o vínculo sagrado do povo com sua terra”.
A trégua está permitindo a volta de muitos palestinos e a troca de reféns do Hamas por reféns de Israel – que a imprensa costuma chamar de “prisioneiros”, mas que não passaram por nenhum processo legal, são detidos como retaliação à resistência palestina e muitas vezes, até, são crianças.
Em suma: são reféns. Não de um grupo terrorista, mas de um Estado terrorista. Evitar chamá-los pelo nome correto é uma manobra, entre tantas, para esconder a real natureza do sionismo.
A trégua é importante, mas não significa paz. Não significa o fim do genocídio.
Israel não cessou completamente as agressões ao povo de Gaza, mesmo com o acordo. Também continua promovendo ataques ao Sul do Líbano, violando outro cessar fogo, pactuado com o Hezbollah. Tem intensificado as ações na Cisjordânia ocupada.
E, na semana passada, uma infame decisão do parlamento baniu, de todo território controlado pelos israelenses, a agência da ONU voltada ao atendimento aos refugiados palestinos, a UNRWA.
É uma agência humanitária, que tenta garantir o acesso dos palestinos expulsos de suas casas, deslocados de seus territórios, a condições mínimas de sobrevivência: um teto ou uma tenda, água, comida, atendimento médico, escola para as crianças.
Sua mera existência – o fato de que as Nações Unidas precisam de uma agência especializada para atender as vítimas de Israel – já é uma denúncia dos crimes do sionismo. Por isso, a UNRWA sempre esteve na mira do governo de Telavive.
E ao impedir a ajuda humanitária às vítimas, boicotando-a na prática e agora proibindo-a também na lei, os governantes israelenses desvelam seu verdadeiro propósito genocida.
Desde o início da atual fase do massacre contra os palestinos, em outubro de 2023, Israel tem tentado destruir a agência. Com base em acusações, que se mostraram infundadas, de que ela seria um ninho de “terroristas”, pressionou seus aliados ocidentais a retirarem o financiamento para suas atividades.
Mas a proibição das atividades de uma agência das Nações Unidas no seu território é algo inédito. Segundo especialistas, é a primeira vez na história em que um país toma uma atitude assim.
A decisão foi condenada até mesmo pelas chancelarias de países europeus que, no entanto, continuam prestando apoio aos sionistas. Mas é claro que a condenação vale pouca coisa.
São países que não conseguem chamar o genocídio pelo seu verdadeiro nome. E declarações cheias de belos sentimentos humanitários não valem nada enquanto eles continuarem enviando armas e dinheiro para que Israel mate mais palestinos.
Quanto ao Brasil, está na hora de dar mais passos. Pode começar parando de vender petróleo para Israel – garantindo que não estamos fornecendo combustível para transporte de tropas, para blindados, para aviões que até agora já mataram, segundo números oficiais seguramente subdimensionados, mais de 50 mil pessoas.
Tem muita coisa inédita no "genocídio.2023". Ele, em si, não é novo, e as imagens justapostas das duas Nakbas - 48 X 23 -, além da repetição de atos de barbárie ao longo de um século de ação terrorista por parte do sionismo, mostra isso. Ataques a imprensa e a ações humanitárias idem. Mas os ataques e proibições para atividade da UNRWA e da Al Jazeera em todo território controlado por Israel são inéditas. Eu ando tentando separar o que é único desde momento, desde contexto internacional de extinção da democracia liberal, e o que é constante. Quanto ao Brasil, o que esse ano de notícias sugere para mim é que o sionismo aí é muito mais forte do que eu imaginava, e tem garras de ferro sobre toda a nossa elite simbólica. Faz sentido? Depois de 10 anos longe do Brasil, ando confusa.